Do Lugar de Nelas à Formação do Concelho
Não haverá decerto em Portugal uma terra com destino histórico comparável ao de Nelas, quando da sua elevação a concelho, por decreto de 9 de Dezembro de 1852. Sendo notório que a povoação, ainda que diminuta em habitantes, já existia nos alvores do Estado, longa foi a evolução até alcançar o estatuto municipal. Desde o século XII integrado no território de Senhorim, formou durante muitos anos apenas uma freguesia da invocação de Nossa Senhora da Conceição de Arco de Nelas. Quase sempre na órbita do concelho de Canas outras vezes nomeada nos documentos em ligação com o senhorio da Aguieira, foi percorrendo Nelas o seu percurso histórico que continua a ser, no nosso tempo, em grande parte ainda, ignorado. E, foi graças, sobretudo, à sua posição geográfica que viu com o advento de liberalismo a sua importância reconhecida.
Situada entre os vales do Mondego e do Dão, na estrada que conduz de Viseu a Seia, a terra viu-se ao longo dos séculos ofuscada pela situação de Canas como a povoação cimeira da mesma região. Tenha-se, aliás, na devida conta, que a estrada com início em Coimbra e que veio a chamar-se da Beira, seguia o itinerário da Ponte da Mucela e daqui tomava a direcção de Celorico, por Venda Nova, Galices, S. Paio de Gramaços e Carrapichana.
Esse trajecto levava 22 horas a percorrer e era, sem dúvida, o que mais cedo conduzia à fronteira de Ribacoa. Enquanto o percurso da Ponte da Mucela na faixa do interior era de 6 horas a Santa Comba Dão e mais 10 horas por Tondela e Sabugosa até atingir a capital dos Hermínios.
Por estranho que pareça, foi a 3ª invasão Francesa que trouxe ao de cima as vantagens deste trajecto que conduzia os viajantes a Nelas e os aproximava em distância da cidade de Viseu. A história da passagem de Massena e das suas tropas pela Beira Alta mostrou que a linha do Dão tinha menos obstáculos a vencer que a zona mais vizinha às alturas da Serra da Estrela, Forçoso se torna, pois, reconhecer a posição do lugar de Nelas como um dos principais eixos de circulação do interior de Portugal, o que não acontecia com Canas de Senhorim, Santar e outras freguesias daquele concelho. Estas razões decerto pesaram no espírito dos governantes ao decretarem a desanexação das terras ditas de Senhorim e com elas formando um novo e promissor concelho.
Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão
Presidente da Academia Portuguesa da História
Situada entre os vales do Mondego e do Dão, na estrada que conduz de Viseu a Seia, a terra viu-se ao longo dos séculos ofuscada pela situação de Canas como a povoação cimeira da mesma região. Tenha-se, aliás, na devida conta, que a estrada com início em Coimbra e que veio a chamar-se da Beira, seguia o itinerário da Ponte da Mucela e daqui tomava a direcção de Celorico, por Venda Nova, Galices, S. Paio de Gramaços e Carrapichana.
Esse trajecto levava 22 horas a percorrer e era, sem dúvida, o que mais cedo conduzia à fronteira de Ribacoa. Enquanto o percurso da Ponte da Mucela na faixa do interior era de 6 horas a Santa Comba Dão e mais 10 horas por Tondela e Sabugosa até atingir a capital dos Hermínios.
Por estranho que pareça, foi a 3ª invasão Francesa que trouxe ao de cima as vantagens deste trajecto que conduzia os viajantes a Nelas e os aproximava em distância da cidade de Viseu. A história da passagem de Massena e das suas tropas pela Beira Alta mostrou que a linha do Dão tinha menos obstáculos a vencer que a zona mais vizinha às alturas da Serra da Estrela, Forçoso se torna, pois, reconhecer a posição do lugar de Nelas como um dos principais eixos de circulação do interior de Portugal, o que não acontecia com Canas de Senhorim, Santar e outras freguesias daquele concelho. Estas razões decerto pesaram no espírito dos governantes ao decretarem a desanexação das terras ditas de Senhorim e com elas formando um novo e promissor concelho.
Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão
Presidente da Academia Portuguesa da História
1 comentário:
Excelente!
Alexandre
Enviar um comentário