sexta-feira, 11 de abril de 2008

"Património comunicante" não in (Planalto) mas out

Uma vez que o meu contributo para o jornal Planalto não terá sido aceite ou foi colocado numa prateleira a aguardar próximas edições, decidi partilhar com os visitantes do blog essa reflexão, a qual aliás não é nova, servia apenas de síntese ao retomar da minha participação no referido jornal. O motivo da publicação aqui é muito simples: ficará desactualizado ou ficará sem sentido se for adiada a sua publicação.
Se estava prevista a sua edição lamento que não seja em primeira mão, se não foi publicado por opções editoriais lamento ainda mais, pois se foi uma rejeição da minha síntese do actual momento político e das minhas sugestões para o melhor do Planalto foi uma rejeição da pluralidade.

"Património comunicante
José Gomes Ferreira

Caros amigos! Sem que tal postura signifique pessimismo, deveremos ser frontais relativamente ao que esperamos do novo Planalto e aos desafios que tem pela frente. Pela minha parte desafio-o a assumir o seu papel de reservatório da memória histórica local, bem como ser a voz das populações e da sua pluralidade; sendo certo que este desafio não acontece “lavando daí as mãos”, mas participando no que estiver ao meu alcance. Mas para que o nosso jornal concretize estes e outros objectivos, se os assumir como tal, deverá rever-se na necessidade de uma maior abertura à sociedade civil e aos temas da vida de todos os dias, assim cumprirá a sua função social e recuperará o espaço que o próprio deixou vago. Torna-se, entretanto, prioritário recuperar leitores e procurar que estes se revejam nas suas palavras.
Atrevo-me a partilhar estas palavras de modo a evitar fazer o que muitos fazem, pois não me revejo em que usa o truque da cabeça na areia, sei que seria mais relaxante preocupar-me com a minha vida ou então limitar-me a comentários avulsos, mas não o faço pelo simples facto de sentir que poderei contribuir para algo plural. Quem acompanha as minhas prestações em papel ou na Internet sabe que não me escuso a participar e/ou em incentivar a participação de outros. Através da internet, principalmente dos blogs do Folhadal e de Nelas (respectivamente com os endereços
http://folhadal.blogs.sapo.pt e http://nelasvirtual.blogspot.com), não me tenho cansado de divulgar pelo mundo fora tudo sobre a nossa terra, uma tarefa que assumo com gosto, embora paixões como esta impliquem um enorme esforço raramente recompensado e por vezes até visto com desconfiança.
De facto, apesar do jornal da nossa terra ter sido suspenso eu não parei, recorri como podem concluir a novos formatos convencido do seu importante papel na promoção da discussão pública de algumas matérias, e na divulgação do nosso património e da nossa cultura. Agora com o seu regresso acredito que aumentam as oportunidades para cada um de nós se expressar e ser ouvido. E, apesar de nem tudo ser perfeito, o seu regresso acontece num momento particularmente sensível e a exigir o nosso olhar atento. Se, por um lado, a crise económica global e nacional tem reflexos a todas as escalas, por exemplo, no encerramento ou risco de encerramento de empresas; por outro lado, a luta política no sentido mais nobre do termo e mais banal das práticas marca a agenda local.
Embora evite comentários de teor político partidário não deixo, neste meu artigo após o longo interregno, de proceder a uma breve reflexão sobre o momento político, para o qual reservo os próximos parágrafos. A leitura que faço resulta de várias conversas mantidas com cidadãos anónimos ou com cidadãos com maior intervenção pública, a partir destas concluo que a meio do mandato do actual executivo camarário muitas almas iniciaram já o balanço das promessas cumpridas e dos sorrisos partilhados, contando-se de um lado e do outro as armas ao dispor das respectivas máquinas partidárias. Entretanto, alguns peões, quase sempre anónimos, pois o segredo é também aqui a “alma do negócio” parecem ter sido eles a dar inicio à contenda, com comentários, antepropostas, expressões de nunca mais ou agora é que vai ser. O que ainda não se viu, de parte a parte, foi a discussão séria e alargada dos assuntos que nos afectam a todos, nem nenhuma das partes procurou saber o que desejam as populações ou, pior ainda, se a governação e a oposição as satisfaz. É sempre fácil dizer que se fez isto ou aquilo, mas alguém se preocupa de forma sistemática e descomprometida em saber quais as reais expectativas e problemas das populações e como satisfazê-las?
Este é o diagnóstico breve de um momento político com enormes constrangimentos, mas também com oportunidades a não perder. Exemplos não faltam, vejamos alguns: a maior fatia do orçamento autárquico vai directamente para o pagamento de salários, o que deixa a autarquia à beira da ruptura; o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN 2007 - 2013) se bem aproveitado constituirá uma oportunidade única para o concelho, exigindo desde já a sua mobilização e das ditas forças vivas locais; o IC 12 será a médio prazo uma infra-estrutura absolutamente crucial para o concelho e para a região, constituindo-se com uma importante via capaz de promover e facilitar as acessibilidades, tão importantes que são para a criação de emprego.
Paralelamente a estes exemplos, não devemos esquecer outras áreas a necessitarem de intervenção: na Educação deveremos evitar que o temporário se perpetue; na Saúde não temos a garantia de que nos próximos anos não venha a encerrar o serviço de urgência, nem a garantia da fixação de novos profissionais por estas bandas; ainda na temática da Saúde destaca-se pela sua natureza a herança radioactiva das minas da Urgeiriça; o passivo das minas da Urgeiriça é igualmente símbolo de degradação ambiental; adicionalmente, o concelho tem ainda por resolver problemas como o tratamento de esgotos, as fumaradas, os resíduos nem sempre devidamente separados por ausência de campanhas de sensibilização dignas desse nome e o desordenamento do território. Isto sem esquecer a ausência de floresta, devastada que foi pelos incêndios dos últimos anos. A lista que não se pretende lista não ficaria completa sem referir o estado de degradação de diversas vias, nomeadamente, da estrada antiga para Carvalhal Redondo, cada vez mais rumo ao completo abandono.
Apesar desta lista um outro problema tem assombrado o nosso concelho e é o espelho do que se passa no país. Refiro-me à ameaça de despedimento dos trabalhadores. Como sabem, a taxa de desemprego, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, a nível nacional fixou-se no 4.º trimestre de 2007 nos 7,8%, afectando sobretudo o sexo feminino, mas também os jovens e os menos escolarizados (INE (2008), Inquérito ao Emprego). No momento em que escrevo estas palavras não tenho acesso a dados actualizados à escala concelhia, o que se sabe é que em 2001 a taxa de desemprego no concelho de Nelas rondava os 6,5 por cento, afectando também as mulheres. O que se sabe, ainda segundo dados do INE, é que em 2006 no concelho de Nelas 673 pessoas beneficiavam de subsídio de desemprego, a maioria das quais mulheres, mas o que mais se destaca é o facto de 144 destas pessoas serem novos beneficiários (INE (2007), Anuário Estatístico da Região Centro 2006). Dada a especificidade e gravidade do problema por agora não adianto mais, pois só por si é motivo para nova reflexão.
Termino este meu artigo aludindo ao que esperam de mim no futuro, voltando ao tema de abertura, sei que alguns esperam que me cale, pois incomodo. Outros querem que seja o delator do infortúnio dos dirigentes e o coveiro dos reformados. Outros, então, limitam-se a criticar-me, anunciando que são eles que apresentam propostas construtivas, embora se limitem a comentários de circunstância e ignorando vários anos de activismo público. Este é genericamente o contexto em que retomo a minha participação no nosso jornal, sabendo muitos dos leitores que acredito que somente com a participação efectiva de muitos poderemos ter um concelho, e um país, mais plural e mais democrático, evitando-se assim que seja o palco apenas para alguns ou que seja apenas ocupado para monólogos em que somos apenas espectadores ou mirones sem direito a palavra. No meio de tudo isto, creio que todos sabem que, na medida do possível sempre estive e continuo a estar disposto a trabalhar, sem esperar com isto aumentar o meu magro pecúlio ou então obter protagonismo, apenas não quero que o nosso concelho permaneça indiferente ao que se passa à sua volta. Naturalmente que não quero com isto dizer que tenho interesse na política partidária, desengane-se quem assim pense, pois existem outras formas de intervenção cívica e é a essas que me refiro."

1 comentário:

Anónimo disse...

ler todo o blog, muito bom