segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Qual o estado das nossas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR)?

Em matéria de esgotos, apesar dos elevados investimentos, o país contínuo uma lástima, isto para não usar as palavras correctas. Como não creio que o concelho esteja melhor deixo uma breve panorâmica sobre o problema a nível nacional. Segundo os dados disponíveis, em 1972 apenas 18% dos portugueses tinha os seus lares ligados a sistemas de drenagem de esgotos, os quais, todavia, não eram devidamente tratados, a maioria era drenado e atirado rio abaixo como que a fazer valer o ditado “longe da vista longe do coração”, pois apenas 2% das águas drenadas eram na altura tratadas. Em 1974, o problema foi assumido como uma prioridade do novo regime, para mais uma pandemia de cólera afectava o mundo inteiro e as principais áreas urbanas nacionais, contudo as prioridades eram outras – os famosos 3 D’s – Descolonizar, democratizar e desenvolver. No caso do distrito de Viseu, em 1974 apenas 3,1 % da população era servida com ligações domiciliárias de esgotos, sendo que em 1977, numa inventariação feita pela Organização Mundial de Saúde, essa percentagem atingia apenas 4%.
Com a adesão à actual União Europeia veio o dinheiro para que fossem finalmente construídas as infra-estruturas de drenagem e as estações de tratamento. E muito dinheirinho se gastou. Mas talvez com a pressa de se aproveitar o dinheiro que vinha de Bruxelas, quando foi de facto aproveitado para os devidos fins, as infra-estruturas construídas rapidamente foram votadas ao abandono, ou por falta de ligação, ou por falta de técnicos, ou por falta de planeamento, bem, desculpas não faltam, o que se sabe é que foram investidos milhões que quase não serviram para nada.
O Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais (PEASAAR I 2000-2006) previa para 2006 uma taxa de cobertura de 90%, a qual nem de perto nem de longe foi alcançada, de tal modo que essa meta foi adiada para 2013, através do PEAASAR II 2007-2013. No entanto, esta meta dificilmente será alcançada em todas as regiões hidrográficas. Como resultado, detiora-se a qualidade da água da maior parte dos rios nacionais, basta para tal ver os dados disponíveis no SNIRH-Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos relativo aos dados 1995 a 2007 para se concluir que, em termos globais, a qualidade da água dos rios nacionais praticamente não sofreu alteração. Resumidamente, em 1995, 40% da água dos rios nacionais era considerada “Má” ou “Muito má”; e em 2000 essa percentagem desceu para 35%; em 2005 subiu para 39%; e, em 2007, 34% da água da maior parte dos nossos rios foi considerada como “Má” ou “Muito má”.
Assumindo que os dados que constam no último Inventário Nacional de Sistemas de Abastecimento de Água e de Águas Residuais (INSAAR 2009) estão correctos verificamos que, em 2007, o índice de drenagem de esgotos no País não ultrapassou 77,5%. Creio aqui que o mais importante não é apenas assinalar as enormes assimetrias regionais registadas – e o mesmo se passa relativamente ao índice de tratamento - nem a ausência de tratamento adequado. O mais importante é assinalar que o mesmo inventário contém apenas dados relativos ao sector doméstico, sendo omisso relativamente aos restantes sectores de actividade. Assim sendo, é praticamente impossível que uma política de saneamento básico (i.e. esgotos) dê os resultados esperados quando parte de dados que não correspondem à realidade do país.
Assim continuamos a gastar recursos e a ter os mesmos problemas. Sendo a água uma bem cada vez mais escasso e o acesso aos serviços de saneamento uma questão de cidadania, é inadmissível que em diversas regiões do país se continuem a ignorar quer os cidadãos quer o meio ambiente. Sem esquecer que os nossos rios são elementos patrimoniais únicos que importa preservar. Parece que de pouco serve o direito constitucional a viver num ambiente sadio, continuamos a fechar os olhos à incúria e leviandade. Mas o pior de tudo, é que quem deveria garantir o bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos, assim como a manutenção dos valores naturais, por um lado, abdica da sua acção fiscalizadora e, pior ainda, tem uma quota-parte de responsabilidade no processo. Se for este rumo estamos definitivamente perdidos, pois nada se faz e o dinheiro é gasto. Cabe-nos a nós, enquanto cidadãos, zelar pelo que é de todos, sem querer substituir os poderes instituídos creio que parte da solução poderá passar pela constituição de uma comissão de acompanhamento, isenta, não politizada, mas o primeiro passa deve ser dado pelas autarquias e pelo próprio Governo, assumindo a gravidade do problema e definindo-o verdadeiramente como prioridade. Sem isso vamos continuar como sempre, expostos à rentabilidade ou não do processo, quando o que está em causa é a defesa de um direito dos cidadãos e da natureza. Ainda assim, importa referir, que o sector é um dos que mais emprego gera, daí que por vezes o argumento segundo o qual investir na melhoria da qualidade ambiental das empresas pode implicar desemprego é uma falsa questão, é um mero argumento usado por conveniência.
Como comecei por dizer, o nosso concelho não deve divergir muito em relação ao resto do país. O que proponho, na qualidade de cidadão, é que se identifiquem os problemas e se remetam a quem de direito, pois só assim teremos força suficiente para fazer reverter o processo. Cruzar os braços é arriscar qualquer dia não ter água para beber e facilitar a acção desmedida dos prevaricadores. Naturalmente que a primeira intervenção passa por nós, na medida em que podemos identificar as lacunas existentes, mas também ao evitar-se contribuir-se para o agravamento do problema, não vamos é “lavar daí as mãos”, até porque corremos o risco de as lavar em água contaminada.

5 comentários:

Anónimo disse...

GNR de Loulé salva mulher do comboio
Uma mulher, com cerca de 64 anos, foi salva ontem à tarde de ser trucidada por um comboio na Estação da CP de Loulé da Linha do Algarve, por militares do Destacamento Territorial da GNR daquela cidade.


Segundo o CM apurou junto de fonte do Comando da GNR na região, a situação ocorreu pelas 13h30. A vítima, que manifestava uma clara intenção de por termo à vida, foi detectada sobre a linha-férrea por funcionários da CP que alertaram a GNR.

Num primeiro momento, a patrulha conseguiu convencer a mulher, que se mostrava bastante perturbada, a sair da linha mas, ao aperceber-se da aproximação de um comboio, a mesma lançou-se subitamente para os carris.

Os militares, “que agiram com risco da própria vida”, segundo a mesma fonte da GNR, “saltaram então para os carris e conseguiram, no último momento, resgatar a senhora, puxando-a, à força, para uma zona de segurança”.

A mulher estaria desaparecida desde a véspera e o facto foi comunicado às autoridades por familiares, ao cuidado dos quais a vítima foi entregue.

Um dos militares é da vossa terra, cometeu um acto heroico, colocou a sua vida em perigo para salvar uma vida humana, a vossa terra deve estar orgulhosa.
Ventura foste um herói.

Abraço de parabéns dos camaradas da GNR.

®efeneto disse...

Amigo José, levei este seu interessante texto e oportuno tema para o Canas em Peso. Os comentarios irão ser moderados. Abraço.

José disse...

Vim apenas dizer que não sumi, tenho é outras prioridades que me afastam um pouco deste compasso...

Ana Gomes disse...

Sr. Jose...

Gostaria de poder falar consigo para ver se era possivel publicar um post neste blog sobre limpar portugal.

deixo lhe os links para que possa saber mais informaçoes sobre este projecto.

E necessario todo o tipo de publicidade para conseguirmos chegar a toda a gente do nosso concelho.

Obrigada
Cumprimentos

Equipa coordenadora do concelho de Nelas

José disse...

Cara Ana Gomes esqueceu de deixar os links, de qualquer modo se desejar basta enviar-me um mail (jogofe@gmail.com). Fico a aguardar...