quinta-feira, 15 de julho de 2010

Assaltantes roubam sacrário com hóstias da Igreja Matriz de Nelas

A Polícia Judiciária de Coimbra está a investigar um assalto à Igreja Matriz de Nelas. Os ladrões levaram o sacrário, onde estava guardada a píxide (cálice) com as hóstias consagradas, destruindo para tal parte do altar-mor. O prejuízo ronda os cinco mil euros e a população acredita que os objectos roubados possam ser usados em actos de bruxaria

Em 41 anos de sacerdócio, o padre António Leitão nunca se deparou com um assalto como aquele que ocorreu na Igreja Matriz de Nelas, onde é pároco há pouco tempo, depois de três décadas em Pindo, no concelho de Penalva do Castelo.

"O que está aqui em questão é a profanação, porque os ladrões não mostraram interesse em outros objectos de valor que se encontravam na sacristia, roubando apenas as hóstias consagradas, arrancando o sacrário da parede", explicou António Leitão, mostrando-se bastante consternado perante toda esta situação.

O assalto ocorreu na noite de segunda para terça-feira, mas o pároco acredita que os "preparativos" tenham sido iniciados no fim-de-semana. "No domingo, a igreja esteve durante várias horas de portas abertas, sem que alguém estivesse lá dentro. E ao fim da tarde do mesmo dia reparei num jovem que estava sentado nas escadas da sacristia. Quando me aproximei dele para conversar ele afastou-se e pouco depois desapareceu", referiu o sacerdote, admitindo que não considerou estranha a presença do jovem, já que o adro da igreja e o largo junto ao cemitério - ao lado do templo religioso - sempre foi ponto de encontro para os adolescentes.

"Na segunda-feira, rezei missa às 19h00 e quando fui buscar a píxide com as hóstias consagradas reparei que alguém tinha mexido no segredo do sacrário e que a porta não se abria, rodando simplesmente a chave como era habitual. Achei estranho, percebi que alguém tinha mexido, mas não pensei muito mais no assunto, até ao dia seguinte, quando dei conta do que tinha acontecido", recordou.

De acordo com o padre, o assalto tem contornos estranhos, já que os assaltantes arrombaram a porta da sacristia, recorrendo para tal a um 'pé-de-cabra'.

De seguida, abriram os armários e as gavetas todas, mas nada levaram. Dirigiram-se ao altar-mor e arrancaram alguma da talha dourada de forma a poderem alcançar o sacrário, retirando-o da parede.

"Não queriam dinheiro, porque senão teriam levado outras coisas, que teriam dado muito menos trabalho a roubar", assegurou, admitindo a possibilidade de o sacrário ter sido o único alvo dos ladrões, com vista à sua profanação. Segundo foi possível apurar, as hóstias consagradas são usadas em actos de bruxaria, chegando a ser vendidas a 250 euros cada uma a pessoas que se dedicam ao oculto.

PJ investiga

O caso está a ser investigado pela Polícia Judiciária já que se trata de um crime da sua competência, tendo em conta que têm inspectores dedicados à recuperação de arte sacra.

Quanto a testemunhas, ninguém terá ouvido ou visto os ladrões. Não há habitações por perto e os quartos ocupados pelos dois párocos de Nelas na Casa Paroquial estão virados para o lado contrário e não permitem ver a igreja. "O adro sempre foi local de encontro para os jovens e também para a venda de estupefacientes, mas a situação melhorou depois de algumas detenções feitas pela Guarda Nacional Republicana. Apesar disso, não deixa de ser um espaço com falta de iluminação pública e que as autoridades poderiam patrulhar com maior frequência", adiantou António Leitão.

Igreja sem entrada

O arrombamento da porta da sacristia, a única com fechadura, já que as outras são fechadas através de trancas interiores, obriga agora a uma "pequena ginástica". "É preciso entrar pela torre do sino, até a uma porta para o coro e de lá desce-se por uma escada até ao chão da igreja", revelou o pároco, explicando que o problema irá manter-se assim até que seja substituída a porta da sacristia.

No próximo fim-de-semana, o pároco deverá reunir com as várias comissões da paróquia com vista a decidir que tipo de medidas deverão ser tomadas para evitar que a igreja seja novamente assaltada. A colocação de um sistema de alarme é uma forte possibilidade, admitiu ontem o padre, que hoje irá receber o bispo de Viseu.

D. Ilídio Leandro irá aproveitar um encontro de sacerdotes da região, previsto para as Caldas da Felgueira, para se inteirar do sucedido. 


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