quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Do Lugar de Nelas à Formação do Concelho…IV

A Terra de Senhorim com a Dinastia de Aviz


Com a ascensão ao trono de D. João I, mestre de Avis, aumenta a documentação referente ao território de Senhorim, com especial destaque para o funcionalismo régio ou municipal ligado à povoação de Canas. O cabido da Sé de Viseu abriria um processo judicial contra Diogo Soares de Albergaria, por este se haver apossado, de forma violenta, da aldeia de Carvalhal Redondo que ficava no termo do concelho e era património da referida Sé. Tendo o monarca aceite as razões da diocese, ordenou aos juízes de Canas de Senhorim e "e outras justiças do Reino" para fazerem cumprir a sentença. Filho de Fernão Gonçalves de Leiria, fiel servidor de D. João I e a quem o monarca dera a coutada do monte e rio a par das terras de Santar, o acusante decerto obteve o perdão da coroa. Para o efeito apresentou cartas régias que o davam como senhor das terras de Santar e de Barreiro, além de outras na comarca da Beira, sem esquecer que herdou também a coutada de monte e rio que seu pai detivera.
O filho e homónimo viu esta mercê confirmada por D. Duarte, não havendo dúvida de que gozou de valimento na corte, como Cavaleiro da Casa Real. Ainda no tempo de D. João I, na defesa dos seus direitos senhoriais, obteve que "non constrangesen nem mandasem constranger os moradores da terra de Asentar e de Barreiro". Como prova o Professor Vaquero Moreno, Diogo Soares de Albergaria participou em 1437 na frustrada expedição a Tânger. A circunstância de haver tomado o partido da rainha D. Leonor de Aragão contra o infante D. Pedro, nas cortes de Lisboa de 1439, não o impediu de manter a alcaidaria do castelo da Guarda. Seguiu depois a causa de D. Afonso V quando da batalha de Alfarrobeira, pelo que foi confirmado na coutada do monte e rio a par das terras de Santar. Tudo explica que o monarca lhe houvesse também doado o lugar de Canas de Senhorim com todas as rendas, direitos e jurisdição.
Um dado referido por Braancamp Freire, com a autoridade que punha nas suas investigações, surpreende o estudioso da matéria.
O cavaleiro Egas Coelho que servira a causa de D. João na guerra de 1383-1385 contra Castela, veio depois a participar "traições e maldades", invadindo com nobres do reino vizinho alguns pontos da fronteira. Por tal motivo, viu os seus bens confiscados em favor de Diogo Lopes de Sousa, filho maior de Frei Lopo dias, mestre da Ordem de Cristo. Entre os bens que passaram de mãos, contava-se o "lugar de Nelas", que havia pertencido a João Afonso Telo, 6º Conde de Barcelos. A menos que se trate da terra de igual nome em Trás-os-Montes, o que o documento não comprova, impõe-se concluir que o senhorio de Nelas recaiu em vários fidalgos antes de ser concedido por D. Afonso V, no ano de 1449, a Diogo Soares de Albergaria, filho e neto de antigos senhores da terra de Senhorim.
Já com D. João II no trono, o lugar de "Asnellas", manteve-se integrado com as terras de Noa e Barreiro, a D, Luis da Cunha, fidalgo da Casa Real. Os textos da chancelaria régia nomeiam Gonçalo de Cáceres como coudel dos concelhos de Azurara e de Senhorim, passando o cargo, no ano seguinte, para Diogo Gonçalves. Antes disso, o monarca concedera a Rodrigo Afonso o ofício de escrivão das sisas de Canas de Senhorim. E não deixa de ser interessante referir que Diogo Fernandes, morador em Casal Sancho do concelho de Senhorim, por se haver negado a ajudar o juiz Pedro Álvares a prender João Gonçalves, por quem fora ofendido, viu-se condenado a degredo em Marrocos, pena que D. João II depois comutou no pagamento de 600 reais para a Arca da Piedade.
A chancelaria de D. Manuel ainda é mais abundante em fontes sobre o território de Senhorim com a nomeação de muitos ofícios públicos. Brás Rodrigues ali morador, foi nomeado tabelião da terra em substituição de Rodrigo Afonso; Lourenço Pires, morador em Canas, recebeu carta de inquiridor das inquirições judiciais de lugar e do concelho; como escrivão das sisas, surge, em 1504, Afonso Gonçalves para todo o concelho de Canas de Senhorim; os juizes, concelho e homens bons de Canas de Senhorim foram notificados pela coroa, no mesmo ano, da eleição de Fernão Talesso, escudeiro de Nuno Martins da Silveira, para o ofício de tabelião do público e judicial; assim com igual notificação sobre a mercê concedida a Domingos Pereira, morador em Nelas, do concelho de Canas de Senhorim, do ofício de tabelião do público e judicial e de escrivão dos órfãos.

Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão
Presidente da Academia Portuguesa da História



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