Os Forais de 1514 e a População em 1527
O Dr. José Pinto Loureiro demonstrou que, desde os meados do século XIII, a cabeça do território de Senhorim se encontrava, não em Canas, mas no lugar de Vilar Seco.
A terra era um curato do abade de Santar e a sede administrativa do concelho, com casa de audiências, cadeia e pelourinho. Tal proeminência vinha, sem dúvida, do maior número de habitantes que residia naquele lugar em comparação com os restantes da terra de Senhorim. Mas a tradição medieval havia fortalecido os nomes de Senhorim e de Canas no conjunto do mesmo território, o que explica a inclusão das duas povoações na reforma dos forais ordenada pelo rei D. Manuel. Assim se justifica a outorga do foral novo de Canas de Senhorim, com data de 29 de Fevereiro de 1514, assim como o concedido a Senhorim, em 30 de Março do mesmo ano.
Nenhum dos forais se refere concretamente a Nelas, como é óbvio ainda que muitas das disposições neles contidas tivessem aplicação legal na mencionada terra, que continuou por muitos a ser chamada de "asnellas"" A vida comunitária regulava-se por uma série de disposições ligadas à vida agrícola e ao comércio, às artes e ofícios, ao vestuário e aos géneres de alimentação habituais. O papel dos tabeliães, as taxas prescritas para a entrada e a saída das terras, quem eram os privilegiados das portagens, todos esses aspectos são mencionados nos dois forais. O seu exame torna-se de molde a estabelecer uma radiografia económica e social da vida corrente no território de Senhorim.
Também a coroa não deixava de conceder a devida atenção ao respeito que se dava às normas judiciais, o que explica o número de nomeações feitas nessa área na parte final do reinado de o Venturoso. Assim, João Correia, escudeiro e morador em Lobelhe do Mato, viu-se confirmado no ofício de escrivão dos órfãos do concelho de Senhorim, Diogo Dias, morador em Santar, teve idêntica confirmação como tabelião do mesmo concelho, "por os outros dois tabeliões não serem ali moradores"; Afonso Gonçalves, morador em Canas de Senhorim, recebeu os cargos de tabelião do público e judicial e de escrivão dos órfãos, "porquanto Domingos Pereira, que os servia, fizera neles tais erros por que os perdera"; e outro Domingos Pereira, morador em "As Nelas" teve o cargo de tabelião do público e judicial do concelho de Canas de Senhorim, "além de outro que aí tem por nos ser dito que não há mais que um e que este concelho é de 200 vizinhos".
O cadastro da população de Portugal no ano de 1527, oferece ao estudioso números de interesse no que respeita à comarca da Beira. A delimitação do concelho de Senhorim era feita nos seguintes termos: "Este concelho tem de termo huma legoa e mea em comprydo e huma legoa em llarguo, parte e confronta com ho concelho de canas de senhorym e com ho concelho de Zurara e com hos concelhos do sexo e casall pelo ryo demóndeguo . No lugar e concelho de Senhorim viviam 51 moradores que pelos coeficientes de 4 e 4,5 correspondiam a uma população entre 204 e 228 de habitantes. O total desdobrava-se nos seguintes números: o lugar de Senhorim, 32 moradores (entre 128 e 142 habitantes) e o lugar de Moreira, 19 moradores (entre 76 e 86 habitantes).
O concelho de Senhorim, englobando as terras envolventes, chegava a 306 moradores, ou seja, uma população ao redor de 1224 e 1327 habitantes. Formavam o concelho os seguintes lugares: Vilar Seque, cabeça do mesmo, com 56 moradores (entre 226 e 249 habitantes) Casal Sanche, 22 moradores (entre 88 e 99 habitantes); Santar (Sumtar), com 57 moradores entre 228 e 256 habitantes); o lugar de Moreira e Vale, com 25 moradores entre 100 e 112 habitantes); Algirás, com 17 moradores (entre 68 e 77 habitantes); Vila Nova de S. João, com 11 moradores (entre 44 e 50 habitantes); Vila Ruiva, com 16 moradores (entre 64 e 72 habitantes); Vila Nova, com 8 moradores (entre 32 e 36 habitantes) Gondufe e Fontelo, 23 moradores (entre 92 e 104 habitantes); e por fim, As Nelas e Roçadas, com 31 moradores (entre 124 e 140 habitantes).
Com tudo o que haja de precário na avaliação feita, pode concluir-se que o então lugar de Nelas tinha uma população ao redor de 130 habitantes, o que podia corresponder a uma trintena de famílias. Tudo o mais se ignora para o tempo, acerca da vida e das actividades económicas da povoação. Um dado regional com interesse diz respeito à passagem de D. Edmé de Saulieu, visitador da Ordem de Cister, que no mês de Dezembro de 1532, vindo de Santa Comba Dão, passou cerca de Nelas a caminho do convento da Maceira.
O secretário anotou no relato: "Desde Santa Comba, ele seguiu uma boa estrada até à vila de Canas, perto da qual se está a construir uma casa de monges da nossa ordem, colocada sob a invocação de São Bernardo e submetida à jurisdição do abade de Clairvaux". Tratava-se do mosteiro de Vale de Madeiro, fundado havia pouco por D. Filipa de Eça, que foi primeira abadessa antes de se transferir para Lorvão. Por não possuir rendimentos bastantes nem acomodações para um grande número de freiras e para assegurar os ofícios divinos, o convento veio a ser extinto em 1560 pelo cardeal D. Henrique e dele não resta hoje qualquer vestígio.
Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão
Presidente da Academia Portuguesa da História
A terra era um curato do abade de Santar e a sede administrativa do concelho, com casa de audiências, cadeia e pelourinho. Tal proeminência vinha, sem dúvida, do maior número de habitantes que residia naquele lugar em comparação com os restantes da terra de Senhorim. Mas a tradição medieval havia fortalecido os nomes de Senhorim e de Canas no conjunto do mesmo território, o que explica a inclusão das duas povoações na reforma dos forais ordenada pelo rei D. Manuel. Assim se justifica a outorga do foral novo de Canas de Senhorim, com data de 29 de Fevereiro de 1514, assim como o concedido a Senhorim, em 30 de Março do mesmo ano.
Nenhum dos forais se refere concretamente a Nelas, como é óbvio ainda que muitas das disposições neles contidas tivessem aplicação legal na mencionada terra, que continuou por muitos a ser chamada de "asnellas"" A vida comunitária regulava-se por uma série de disposições ligadas à vida agrícola e ao comércio, às artes e ofícios, ao vestuário e aos géneres de alimentação habituais. O papel dos tabeliães, as taxas prescritas para a entrada e a saída das terras, quem eram os privilegiados das portagens, todos esses aspectos são mencionados nos dois forais. O seu exame torna-se de molde a estabelecer uma radiografia económica e social da vida corrente no território de Senhorim.
Também a coroa não deixava de conceder a devida atenção ao respeito que se dava às normas judiciais, o que explica o número de nomeações feitas nessa área na parte final do reinado de o Venturoso. Assim, João Correia, escudeiro e morador em Lobelhe do Mato, viu-se confirmado no ofício de escrivão dos órfãos do concelho de Senhorim, Diogo Dias, morador em Santar, teve idêntica confirmação como tabelião do mesmo concelho, "por os outros dois tabeliões não serem ali moradores"; Afonso Gonçalves, morador em Canas de Senhorim, recebeu os cargos de tabelião do público e judicial e de escrivão dos órfãos, "porquanto Domingos Pereira, que os servia, fizera neles tais erros por que os perdera"; e outro Domingos Pereira, morador em "As Nelas" teve o cargo de tabelião do público e judicial do concelho de Canas de Senhorim, "além de outro que aí tem por nos ser dito que não há mais que um e que este concelho é de 200 vizinhos".
O cadastro da população de Portugal no ano de 1527, oferece ao estudioso números de interesse no que respeita à comarca da Beira. A delimitação do concelho de Senhorim era feita nos seguintes termos: "Este concelho tem de termo huma legoa e mea em comprydo e huma legoa em llarguo, parte e confronta com ho concelho de canas de senhorym e com ho concelho de Zurara e com hos concelhos do sexo e casall pelo ryo demóndeguo . No lugar e concelho de Senhorim viviam 51 moradores que pelos coeficientes de 4 e 4,5 correspondiam a uma população entre 204 e 228 de habitantes. O total desdobrava-se nos seguintes números: o lugar de Senhorim, 32 moradores (entre 128 e 142 habitantes) e o lugar de Moreira, 19 moradores (entre 76 e 86 habitantes).
O concelho de Senhorim, englobando as terras envolventes, chegava a 306 moradores, ou seja, uma população ao redor de 1224 e 1327 habitantes. Formavam o concelho os seguintes lugares: Vilar Seque, cabeça do mesmo, com 56 moradores (entre 226 e 249 habitantes) Casal Sanche, 22 moradores (entre 88 e 99 habitantes); Santar (Sumtar), com 57 moradores entre 228 e 256 habitantes); o lugar de Moreira e Vale, com 25 moradores entre 100 e 112 habitantes); Algirás, com 17 moradores (entre 68 e 77 habitantes); Vila Nova de S. João, com 11 moradores (entre 44 e 50 habitantes); Vila Ruiva, com 16 moradores (entre 64 e 72 habitantes); Vila Nova, com 8 moradores (entre 32 e 36 habitantes) Gondufe e Fontelo, 23 moradores (entre 92 e 104 habitantes); e por fim, As Nelas e Roçadas, com 31 moradores (entre 124 e 140 habitantes).
Com tudo o que haja de precário na avaliação feita, pode concluir-se que o então lugar de Nelas tinha uma população ao redor de 130 habitantes, o que podia corresponder a uma trintena de famílias. Tudo o mais se ignora para o tempo, acerca da vida e das actividades económicas da povoação. Um dado regional com interesse diz respeito à passagem de D. Edmé de Saulieu, visitador da Ordem de Cister, que no mês de Dezembro de 1532, vindo de Santa Comba Dão, passou cerca de Nelas a caminho do convento da Maceira.
O secretário anotou no relato: "Desde Santa Comba, ele seguiu uma boa estrada até à vila de Canas, perto da qual se está a construir uma casa de monges da nossa ordem, colocada sob a invocação de São Bernardo e submetida à jurisdição do abade de Clairvaux". Tratava-se do mosteiro de Vale de Madeiro, fundado havia pouco por D. Filipa de Eça, que foi primeira abadessa antes de se transferir para Lorvão. Por não possuir rendimentos bastantes nem acomodações para um grande número de freiras e para assegurar os ofícios divinos, o convento veio a ser extinto em 1560 pelo cardeal D. Henrique e dele não resta hoje qualquer vestígio.
Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão
Presidente da Academia Portuguesa da História
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