sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Votos de Bom Natal

Sobretudo na última década o Natal transformou-se tanto que as gerações mais novas desconhecem anteriores rituais e a sua importância. Na cidade o Natal é diferente, ao contrário do que as acções de solidariedade pretendem promover, o Natal aí exclui. Mas as nossas vivências, apesar da invasão de elementos cosmopolitas, contribuem para que se mantenham alguns traços do passado. Tentarei em breves palavras falar sobre alguns, sem preocupações de fazer uma lista exaustiva e comentada.
Lembro-me do Natal do Menino Jesus e dos sapatos na chaminé, normalmente eram meias, pois os brinquedos eram caros, não eram fruto da globalização, muitos deles eram manufacturados, pelo que eram caros. lembro-me também de um Natal verdadeiramente em família, em que contavam as presenças, não as ofertas. Não deixo de falar na insistente ideia do Natal como ritual familiar. É certo que o Natal é uma celebração da família, tomada aqui não apenas como família nuclear (pais e filhos) mas como família alargada, estendendo-se por vezes à rede de amizades e à vizinhança. O que mudou é que o Natal em família alargada ou não passou a ser o Natal das prendas. É óbvio que sempre se ofereceram presentes de Natal, mas nunca na perspectiva de “vou dar para receber” ou “tenho de comprar uma prenda para” determinada pessoa pois se não der parece mal. Este é o Natal da multidão a tomar de “assalto” as lojas e a sair cheia de sacos com bugigangas e de carteira vazia.
É certo que ainda temos um pouco do que era o Natal, temos a fogueira, já falei sobre ela em diversas ocasiões. Além do lado ambiental, muito importante hoje em dia e sempre, a fogueira sem se dar conta é um ritual que une a comunidade e perpetua as suas tradições. Se na noite é um ritual quase exclusivamente masculino, facto que se prende com as suas origens, pois se bem se lembram era necessário ir roubar pinheiros (era literalmente roubar, normalmente pinheiros mas não só), para o qual a força do homem era importante, sem esquecer que o papel da mulher tinha limitações, além do mais ficava em casa a tratar dos preparativos da festa ou ia à Missa do Galo; no dia de Natal, aqui com uma forte ligação entre elementos pagãos e religiosos, a fogueira de Natal sempre foi um lugar de reencontro, dos membros das diversas famílias, após a missa.
A manutenção dessas tradições é um elemento essencial, mas para que tal seja possível é preciso que a nossa floresta seja mantida, mas o futuro não é muito promissor. Sem floresta a fogueira de Natal acaba por se esgotar, pois irá limitar-se a queimar restos de cepos até que acabem. Ora, a fogueira de Natal não é apenas isso, entendo-a também como uma celebração da floresta ou do que a natureza nos pode dar. Durante o ano temos várias festas a celebrar as colheitas, a fogueira de Natal é uma celebração que exalta os valores e a importância da floresta, daí alguma permissão dos proprietários em “deixarem” ir os seus pinheiros, pois sabiam que rapidamente a natureza os ajudaria a repor. Com os incêndios e a ausência de planos de reflorestação, bem como o afastamento das pessoas da terra, tudo isso se está a perder. É bom que o dito espírito de Natal ajude a recuperar esses valores e essas práticas.
Com esta leitura peculiar do que é o espírito de Natal assim termino, desejo a todos (e a todas, claro) um Bom Natal. Boas Festas.

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