terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Defesa do ambiente vs "terrorismo político"

Como sabem não me quero meter na política ligado aos partidos, o que não significa que não tenha intervenção pública, a qual, por exemplo, pode ter como ponto de reflexão a acção dos políticos locais. Serve esta breve introdução para vir a público manifestar o meu apoio à associação Ambiente em Zonas Uraníferas (AZU) e em particular ao seu seu presidente, o Sr. António Minhoto, perante a forma ofensiva como foi tratado por um dos vereador da autarquia de Nelas, tal como a cobertura mediática de hoje documenta. Imagino que eu tenha direito ao mesmo tipo de tratamento, pois em várias ocasiões ousei denunciar vários casos. Fiquei a saber que pelo menos numa das minhas últimas intervenções não agradei, não sei se foi por ter mostrado imagens sobre a poluição do ribeiro corre junto à estrada que vai para Seia e desagua no Mondego, se por outras situações similares. Lembro-me ainda que várias vezes me referi à possível contaminação radioactiva da ribeira da Pantanha, na medida em que levava para o rio Mondego as escorrências da mina da Urgeiriça, sendo que os interessados nunca foram avisados de eventuais perigos, recebendo em contrapartida uma "recompensa" em dinheiro. Episódios à parte, vamos ao que interessa.
São bem conhecidas algumas formas de protesto em favor da defesa do ambiente que pouco o beneficiam, dado o seu radicalismo. Por outro lado, tal como outras formas de expressão cívica, a defesa do ambiente assume contornos específicos consoante o motivo concreto, o risco que representa, o passivo ambiental que afecta as populações, os actores locais e a capacidade de influência de alguns protagonistas. Isto só para citar alguns exemplos e estava sobretudo a lembrar-me do que se passou em Coimbra, para ser exacto em Souselas, com a questão da co-incineração. Sendo que nesse exemplo a questão ambiental foi tomada como o impulso para tirar Coimbra e a região do "esquecimento" ou para colocar a região na agenda se assim preferirem.
Ao contrário do exemplo anterior, o ambiente é visto no nosso país, sobretudo por empresários e autarcas, como um empecilho. Aliás o mesmo se passa com o ordenamento do território. Quando se trata de concorrer a fundos comunitários não se esquecem de valorizar a excelência de determinada área, exaltando o empenho das populações e as qualidades naturais dessa mesma área. Mas quando pretendem contornar os "obstáculos" ao que dizem ser desenvolvimento disparam em todos os sentidos à procura dos culpados, de quem impede o modelo de "desenvolvimento" que defendem. Talvez seja bom lembrar dois aspectos fundamentais: a defesa do ambiente é uma necessidade urgente; defender o ambiente não é atributo de uns quantos "guerreiros do apocalipse", deve envolver todos os cidadãos, seja qual for a profissão ou o cargo que ocupem, é uma questão de cidadania, não de terrorismo, pois isso será atentar contra o ambiente.
Não sei quanto dinheiro foi gasto na Quinta da Cerca, seja qual for a importância o episódio que hoje surge na comunicação social demonstra claramente que o ambiente somente é tomado como um valor a preservar quando pode ser usado como bandeira na luta política. De outra forma é desvalizado ou completamente desprezado, tal como aconteceu. Não vale a pena esconder a poluição com o potencial emprego que cria, pois todos sabemos que existem cada vez mais tecnologias limpas, se não são introduzidas ou é porque alguns fecham os olhos ou os outros arranjam formas de poupar. Até porque, como sabemos, as empresas poucos anos depois mudam de região e de país e o problema por elas criado permanece durante várias décadas. Falam tanto em desenvolvimento sustentável que esquecem a sua implementação, será pedir muito?

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