quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Do Lugar de Nelas à Formação do Concelho… VI

Notas Soltas Sobre Nelas
(Séculos XVI a XVIII)

Por mais extensa que fosse a pesquisa, não se tornou possível encontrar o nome de pessoas naturais de Nelas que tivessem caído sob a alçada do Santo Ofício, como réus ou simples denunciantes. No livro de sumários da Inquisição de Coimbra, não se acha referência a nenhum habitante ou oriundo daquele lugar da terra de Senhorim. Apenas se deparou com um exemplo no inventário coligido pelo historiador António Baião e que merece ser mencionado. Assim, no dia 29 de Novembro de 1588, compareceu no tribunal de Lisboa o licenciado Pedro Dias, clérigo prebístero, natural de Nelas, que denunciou uma Inês Lourenço por haver casado duas vezes, sem antes se certificar se o primeiro marido estava ou não vivo. Devemos estar em presença de um caso de alguém que se ausentou para as possessões do além-mar e nunca mais deu notícias do seu paradeiro.
Outra notícia solta acerca de um "nelense", encontra-se na época da Restauração com o alvará concedido a Francisco Pais Alpalhão, morador em Nelas, concelho de Canas de Senhorim, na comarca de Viseu. Era filho de António Lopes Alpalhão e recebeu os foros de escudeiro-fidalgo e, mais tarde, de cavaleiro-fidalgo, com 700 reis de moradia por mês e 1 alqueire de cevada por dia, pelos serviços que prestara no referido concelho. Ignora-se a qualidade dos préstimos que Francisco Alpalhão teria feito à coroa, não sendo de excluir que tivessem relação com o advento da dinastia Nova. O que parece não oferecer dúvida é que, nos meados do século XVII, o topónimo Asnellas (As Nelas) já cedera, na grafia e no uso corrente, à forma modernizada de Nelas que se regista no documento.
Ainda que os textos oficiais pouco refiram acerca de Nelas no período anterior ao século XVIII, não deixa de ser verdade que na então freguesia havia muitos traços de vida social, económica e religiosa. Basta mencionar os livros paroquiais de Canas de Senhorim, para conhecer os registos de baptismos desde 1682 a 1700, os de casamentos de 1619 a 1801 e os de óbitos entre 1619 1 1911. A consulta dessas fontes coevas, verdadeiras radiografias de viver comunitário, trará decerto ao de cima muitos aspectos da vida local. Nomes e laços de família, profissões e ofícios, poderão extrair-se com proveito para aprofundar a história de Nelas, desde o tempo dos Filipes à proclamação da República. Vamos mesmo ao ponto de considerar os arquivos paroquiais como uma preciosa mina de informações a explorar.

Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão
Presidente da Academia Portuguesa da História

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